Brasil: Pioneiro em Matriz Limpa e os Desafios da Transmissão Elétrica
- Rebeca Pinheiro
- 18 minutes ago
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O Brasil ocupa uma posição de destaque mundial quando o assunto é matriz elétrica limpa. Em 2024, 88,2% da energia produzida no país veio de fontes renováveis, número que coloca o país muito à frente da média global. A energia solar, por exemplo, já atingiu 70,7 TWh, e as chamadas fontes não convencionais (solar, eólica e biomassa) passaram a representar mais de 40% da matriz. Para 2025, a ANEEL prevê um aumento de quase 10 GW na capacidade de geração, sendo a maior parte vinda de renováveis, enquanto o ONS estima que, em menos de quatro anos, elas responderão por mais da metade de toda a capacidade instalada.
Apesar do avanço, é importante diferenciar: ter uma matriz limpa não significa ter uma matriz sem impacto. Toda geração de energia gera algum custo ambiental e social, ainda que em diferentes intensidades.
O Sistema Interligado Nacional (SIN) foi pensado para aproveitar a diversidade hidrológica do país, mas hoje enfrenta dificuldades para absorver o crescimento acelerado da energia solar e eólica, especialmente no Nordeste. Isso tem levado ao fenômeno conhecido como constrained-off, quando usinas precisam reduzir a produção não por falta de sol ou vento, mas porque a rede de transmissão não consegue escoar a energia.
Somam-se a isso eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, que expõem a vulnerabilidade da infraestrutura. Os desafios passam por ampliar a rede, integrar a geração distribuída e modernizar o sistema. Em maio de 2025, o governo anunciou 37 novos estudos de planejamento da transmissão, incluindo a preparação para o hidrogênio verde. Em abril, a IFC firmou parceria com o Grupo Equatorial para modernizar e expandir redes de distribuição, buscando reduzir perdas e aumentar eficiência.
O futuro energético brasileiro depende justamente dessa combinação: descentralizar a geração, acelerar a digitalização com IoT e inteligência artificial, expandir sistemas de armazenamento em larga escala e, sobretudo, planejar a transmissão de forma antecipada para acompanhar o crescimento das renováveis.
O Brasil já é referência em energia limpa, mas precisa transformar essa vantagem em segurança energética. A busca por uma matriz sem impacto é utópica; o caminho realista está em minimizar danos e potencializar benefícios, conciliando sustentabilidade, eficiência e desenvolvimento. Com planejamento e investimentos corretos, o país tem condições de se consolidar como liderança global em energia renovável e sustentável.
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